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Portugal campeão da Europa pela primeira vez
Siiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiimmmmmmmmmmmmmm!

Lágrimas. Foi uma final de lágrimas. Lágrimas demasiadamente salgadas de tristeza que se misturaram com inesquecíveis doces lágrimas de alegria. Lágrimas que se fundiram com as do nosso capitão, o capitão dos capitães. Naquele terrível momento, precoce, em que Payet lesiona Cristiano Ronaldo tudo parou. O Mundo parou (sim, porque os 15 milhões de portugueses estão espalhados por todo o Mundo). O joelho esquerdo ficou muito mal tratado. Doeu-nos a todos. E ele, que é rijo, que é insuperável, que é determinado como ninguém, que é decisivo, que é marcante, que é solidário (por muito que alguns estranhamente persistam em não o reconhecer), que é líder por excelência, insistiu. Manteve-se em campo. Dez minutos depois as lágrimas que lhe jorravam pelo rosto previam o pior, mas nem assim cedeu, sim, porque ele não desiste nunca. Saiu apenas com a esperança de que aquela ligadura fizesse milagres. Mas não, não fez. E aos 25 minutos de jogo, já depois de apesar das muitas dificuldades físicas ter participado numa jogada em que Adrien remata para fora, abandonou Saint-Denis de maca e em pranto. O Mundo desabava. Para ele, que tanto e tanto e tanto lutou por este momento, e para nós. As lágrimas amargas desse momento deram lugar a lágrimas de uma imensa, profunda, inesquecível alegria. Porque Portugal foi o Portugal deste Europeu, foi o Portugal concebido por Fernando Santos, o crente, e a 11 minutos do final do prolongamento Éder, com um remate absolutamente imprevisível e espectacular, deu o primeiro título da história do futebol português. Épico, memorável. E 15 milhões voltaram a chorar, Cristiano Ronaldo incluído.

 

Os portugueses são um povo habituado a sofrer. Mas durante um mês, um pouco por todo o mundo, as dificuldades da vida foram momentaneamente esquecidas; a crise mundial posta de parte; as tristezas e partidas que a vida nos prega colocadas em lista de espera. Nada disso importou durante todo este tempo. O que verdadeiramente interessava era este campeonato da Europa, disputado num país cheiinho de emigrantes, que foram notavelmente incansáveis no apoio aos seus rapazes, ao seu país, à sua nação. Houve quem duvidasse, mas há sempre quem prefira o desdenho ao louvor. A verdade é que Portugal não parou de evoluir desde o início da participação neste Euro’2016. Culminando com a consagração inédita numa Paris pintada com vermelho e verde exactamente um mês depois das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, a 10 de Junho. Sofrido, como não podia deixar de ser, porque esse é o nosso fado. Mas desta vez, o fado português foi a mais alegre, entusiasmante e vibrante melodia. 41 anos depois, França foi derrotada por Portugal.

 

Remonta ao século XIX a frase certeira de Helena Blavatsky que se encaixa como uma luva à equipa portuguesa: “Mesmo que pequeno, um grupo (…) só poderá ser teosófico se todos os seus membros estiverem magneticamente ligados entre si, pelo mesmo modo de, pelo menos, olhar na mesma direção.” Na verdade, aqueles nossos 23 rapazes (sim, porque com excepção dos guarda-redes todos jogaram) fizeram jus a esta declaração e a uma outra: “Trabalhando sozinho ninguém pode conseguir isso, mas quando há vários, é comparativamente fácil”. Assim foi a história deste memorável Campeonato da Europa. Portugal foi um, só um, apresentando um futebol diferente, mas terrivelmente eficaz. E isso também é de valorar e muito. Porque, note-se, ninguém, mas ninguém, conseguiu derrotar Portugal durante este mês. Pouco importa se a equipa nacional venceu apenas um dos 7 jogos no decorrer dos 90 minutos. Importa, sim, que o sonho de milhões se tornou realidade.

 

É agora pouco relevante falar do lance ao minuto x ou ao minuto y do jogo da final, com a supercandidata França, que até jogava em casa. Importa elevar novamente o jogo solidário de Portugal, a concentração e rigor de uma equipa que soube moldar-se à ausência de Cristiano Ronaldo, e que deixou, em campo, a demonstração de que, sim, foi melhor do que o adversário. Sim, foi. Mesmo tendo levado o jogo para o prolongamento, mesmo com bolas nos ferros (uma para cada lado). Todos foram enormes, desde a defesa (Rui Patrício foi um gigante com pelo menos três defesas do tamanho da Torre Eiffel, enquanto Pepe sai de França como o melhor central da prova e esta noite o homem do jogo), passando pelo combativo meio-campo (Renato Sanches emprestou uma saudável imprevisibilidade e inocência, sendo considerado o melhor jovem da prova), terminando no ataque, que desta vez teve em Éder o herói improvável, mas um herói que nos fez tocar o céu, com aquele magnífico remate aos 109 minutos. Tinha-o prometido a Fernando Santos (o engenheiro e obreiro do feito) quando entrou. E cumpriu. Encheu-se de brio, de crença, de fé e rematou de fora da área para o golo mais saboroso das nossas vidas. Temos uma selecção que cumpre promessas, a começar no seu timoneiro. Estes são os nossos 23 magníficos, mais equipa técnica e restante staff, que segunda-feira receberão das mãos do presidente da República a distinção de Comendadores. Estes são os nossos heróis, heróis valentes e imortais.

 

A taça de campeão europeu, erguida por um Cristiano Ronaldo novamente em lágrimas e ao pé coxinho, deixou de ser sonho e uma utopia. 12 anos depois da última presença numa final, Deus é português. A Taça das Confederações (que Portugal ganhou o direito de disputar no próximo ano, na Rússia) e o Mundial não se podem jogar já de seguida?