
Euro'2016
Portugal foi uno, Pepe bom gigante e Renato dinamite
Minuto 117 em Lens. Perisic acaba de rematar ao poste quando Ricardo Quaresma recupera a bola na defesa de Portugal, que joga com Cristiano Ronaldo, que mete em Renato, que sobe, sobe, sobe por ali fora, que vê Nani na esquerda, que cruza para a direita onde já está Cristiano Ronaldo, que remata pela primeira vez, que vê o guarda-redes defender com os pés, mas para onde também já está Ricardo Quaresma, que cabeceia para o fundo das redes. Portugal acaba de carimbar a passagem aos quartos-de-final do Euro’2016. No finzinho. Com algum sofrimento, mas com muito pragmatismo. E com a pontinha de sorte que esteve desaparecida nos três jogos anteriores da fase de grupos. Renato Sanches, que entrara ao intervalo e mudou o jogo de Portugal, foi considerado o melhor para a UEFA; Pepe foi grande, muito grande, um gigante, um bom gigante a anular os ataques croatas; o colectivo, o todo, está de parabéns, pelo rigor, pela maturidade, pelo sacrifício. Portugal foi uno. E está nos quartos, onde tem à sua espera a Polónia.
Desta vez a gestão de Fernando Santos incidiu na defesa e daí se explica que Ricardo Carvalho, esse enorme central, tenha ficado a descansar por troca com José Fonte, o mesmo acontecendo com Vieirinha, substituído por Cédric, enquanto Raphael Guerreiro regressou ao lado esquerdo da defesa. No meio-campo, João Moutinho foi rendido por Adrien, mantendo-se João Mário e André Gomes no meio-campo. O que se assistiu foi a um jogo adulto e ponderado quer de Portugal quer da Croácia, com escassez de oportunidades. A excepção foi um cabeceamento por cima de Pepe aos e um remate às malhas laterais de Perisic aos 30’. Todos estavam de olho em todos e Portugal até tinha um dia a menos de descanso do que o oponente.
Para a segunda parte, Portugal voltou com Renato Sanches, o menino caçula de enormíssimo talento que foi dinamite, para o lugar de André Gomes (49’) e a alteração táctica introduzida acabou por dar mais capacidade de explosão ao meio-campo e as aproximações à área começaram a ser mais frequentes, tal como no lance em que Nani (64’) foi pontapeado na área e o penalti correspondente ficou por assinalar. Mesmo assim, Cristiano Ronaldo continuava sem bola, e que jogo ingrato teve de fazer o capitão de Portugal. Ingrato, mas frutuoso, porque no único remate que conseguiu fazer o golo apareceu.
O prolongamento chegou sem surpresas, e com Ricardo Quaresma no lugar de João Mário, porque o jogo continuava extremamente táctico, com as equipas a anularem-se uma à outra, e o respeitinho mútuo era muito bonito. Era e continuou a ser até ao minuto 113, altura em que Vida, de cabeça, podia ter feito estragos, ou ao minuto 116, em que Perisic enviou a bola ao poste. Mas aí, Portugal empertigou-se. E foi na sequência deste lance perigoso da Croácia que Portugal, no minuto seguinte, assegurou a passagem aos quartos-de-final. De contra-ataque puro e duro. Com o carimbo de Renato, Nani, Cristiano Ronaldo e Quaresma. Incisivo, pragmático, brilhante.
Pela primeira vez, Portugal ganhou um jogo em um prolongamento e Fernando Santos continua sem perder em jogos oficiais, já lá vão 11. A próxima final será quinta-feira, em Marselha (20h00), com a Polónia, que deixou pelo caminho a Suíça no desempate por grandes penalidades. São uns quarto(s) com vista para a final de Paris.