
Euro'2016
Meias-finais com vista para Paris
Beija a bola, dá cinco passes atrás, respira fundo e remata para o fundo das redes. Cristiano Ronaldo, desta vez, foi o primeiro e não o último a apontar a série de cinco grandes penalidades que carimbaria a passagem às meias-finais do Euro’2016. Portugal completara os 120 minutos regulamentares do jogo com a Polónia com o quinto empate da prova (1-1). Agora tudo era decidido assim, na marca dos 11 metros, no frente a frente com os guarda-redes. Lewandowski não ficou atrás; Renato Sanches, o menino de ouro que apontara o golo do empate ainda no tempo regulamentar, foi espantosamente maduro e voltou a colocar a equipa portuguesa em vantagem; Milik, fã confesso do capitão português, igualou serenamente; João Moutinho, concentrado quanto baste, foi cem por cento certeiro; Glik imitou-o; Nani, o penúltimo português, manteve com classe a ilusão lusa vem viva. E foi então, no finzinho, que dois momentos definiram quem passaria à fase seguinte: Blaszczykowsk encara Rui Patrício, mas o guarda-redes português não só adivinha o lado, como se estica, estica, estica, e com uma sapatada com a mão esquerda defende espantosamente o forte remate; segue-se o tudo ou nada com Ricardo Quaresma. E foi tudo, porque o “Lelito”, com uma serenidade fantástica, não tirou os olhos da bola e esta, teleguiada, só parou no fundo das redes. A ilusão continua, porque a união faz a força e espírito de grupo, bravura, capacidade de sacrifício, irmandade e rigor desta equipa permite-nos sonhar.
Pela quarta vez em cinco fases finais de Europeus, Portugal está apurado para as meias-finais. Para agora lá chegar foi necessário recorrer a novo prolongamento, no que já é o quinto empate em outros tantos jogos e a grandes penalidades. Sem Raphael Guerreiro e André Gomes, que ainda não debelaram problemas físicos, mas com Eliseu e Renato Sanches, Portugal teve uma entrada em falso no jogo e o minuto dois ditou o segundo golo mais rápido da história dos campeonatos da Europa, por Lewandowski, que assim se estreava a marcar nesta edição da prova (no topo está o russo Kirichenko, no Euro’2004’, aos 67 segundos).
Não foi de imediato, mas Fernando Santos rectificou posições em campo, a equipa equilibrou-se, solidificou o meio-campo, aproximou linhas e foi assim que aos 31’ Cristiano Ronaldo sofreria uma grande penalidade do tamanho deste mundo e do outro que o árbitro não assinalou; e foi assim que Renato Sanches, esse mesmo, o menino maravilha sem medo de nada e com vontade de tudo (e com tanto, mas tanto futebol nas botas), arrancou um remate fortíssimo com o pé esquerdo após tabela com Nani, para o golo do empate. Ele (que viria a ser eleito pela UEFA, e pela segunda vez consecutiva, o homem do jogo apesar da gigante, muito gigante, gigantesca exibição de Pepe, mais uma), transformou-se no mais jovem jogador a marcar em fases a eliminar de Europeus, com 18 anos e 316 dias e mostrou de que fibra é feita.
Assim continuaria tudo na segunda parte, com Portugal a rematar mais, mas com a Polónia também a espreitar qualquer coisinha e com Cristiano Ronaldo a fazer uma vez mais um jogo de sacrífico em prol da equipa e desta vez a não ter a sorte pelo seu lado em duas ocasiões, que em condições normais resultariam em golo. Como aquela em que, magistralmente lançado por João Moutinho (que entrara aos 73’ para o lugar de Adrien e deu uma enorme consistência ao meio-campo) não conseguiu acertar na bola. E tudo se manteria na mesma no prolongamento, já com Ricardo Quaresma e Danilo em campo. Porque era proibido cometer erros fatais naquela fase. Chegaram as grandes penalidades e o que verdadeiramente impressionou foi a serenidade, concentração e personalidade dos cinco mosqueteiros eleitos. Um deles com apenas 18 anos. Portugal venceu por 5-3.
A meia-final, que tem vista para Paris, está marcada para o dia 6 (quarta-feira) e Portugal aguarda pelo vencedor do jogo entre o País de Gales e a Bélgica. William de Carvalho estará de fora por via do cartão amarelo visto nesta quinta-feira.