Euro'2016
Com alma, muito coração e… Cristiano Ronaldo
Electrizante, sufocante, emocionante, de loucos até, naquele que foi o mais espectacular jogo do Euro’2016 até ao momento. Por três vezes, sim três vezes, Portugal viu-se fora da prova e por três vezes, sim três vezes, conseguiu anular a desvantagem para a Hungria. Com muito sofrimento, mas também com muita alma e coração de todos sem excepção. Ah, e com muito Cristiano Ronaldo. Que por acaso até foi eleito o homem do jogo para a UEFA. Que por acaso fez a assistência para o golo de Nani. Que por acaso marcou ele próprio dois, um de autor, com o calcanhar, outro de cabeça, para o 3-3 final. Mais um empate, é certo, mas este leva-nos até à próxima final. Que será disputada já dentro de três dias (sábado, 20h00), com a Croácia.
O jogo até começou com um ritmo “normal”, se levarmos em conta os 32 graus que se faziam sentir em Lyon. Raphael Guerreiro, com problemas físicos, fora rendido por Eliseu no lado esquerdo da defesa, enquanto João Mário recuperara a titularidade, ficando Ricardo Quaresma no banco. Por entre um remate aqui outro ali, o impensável aconteceu, com Gera a rematar de meia-distância e a bater Rui Patrício. 19 minutos estavam passados e Portugal, neste instante fora do Euro, lá se ia aproximando da baliza de Kiraly, muito por força de livres e cantos. Foi assim que a equipa nacional apontou o primeiro, com Cristiano Ronaldo a desmarcar espantosamente Nani e o remate de primeira não menos fantástico a ser coroado de êxito. Portugal voltava a estar apurado.
O intervalo surgiria três minutos depois e com Renato Sanches no lugar de João Moutinho, mas também com novo balde de água gelada que não soube nada bem apesar do calor. É que, percebeu-se depois, a cada livre ali marcado sobre a direita a bola entrava às três tabelas, ou seja, desviando num homem português para trair irremediavelmente Patrício. Foi assim que a Hungria se colocou por duas vezes em vantagem (47’ e 55’), sempre por Dzsudzák. Foi então que Cristiano Ronaldo foi o Cristiano Ronaldo de sempre: decisivo, porque é isso que ele faz.
A segunda desvantagem anulada aconteceu aos 50’, com um remate de calcanhar absolutamente fabuloso após cruzamento de João Mário (bela segunda parte), um daqueles golos que entrarão para a história deste Europeu; a terceira desvantagem anulada, e que colocou Portugal nos oitavos-de-final, registou-se aos 62’, no minuto seguinte à entrada de Ricardo Quaresma para o lugar de André Gomes, e foi o próprio extremo a fazer a assistência para o cabecamento do capitão. Cristiano Ronaldo não só voltou aos golos, como bateu dois novos recordes: é o único jogador europeu a marcar em quatro fases finais de Campeonatos da Europa; é o jogador, da história dos europeus, com mais jogos em fases finais (17), batendo Van der Sar e Thuram. Para além destes pormenores, ultrapassou Alan Shearer e é o segundo melhor marcador de sempre em Campeonatos da Europa, com oito golos, a um de Platini.
O jogo estava absolutamente louco, tão louco que Elek rematou ao poste enquanto Portugal continuava na procura do golo que lhe permitiria chegar ao primeiro lugar do grupo. Mas não. Os últimos minutos foram de troca de bola para aqui e para ali, porque a Hungria queria fugir aos tubarões e Portugal queria continuar no meio deles.
A Hungria qualificou-se em primeira do Grupo F, a Islândia em segundo lugar (venceu a Áustria por 2-1) e Portugal em terceiro, com três empates que lhe valem a discussão dos oitavos-de-final com a Croácia, já no sábado.