Rússia’2018: o melhor Portugal acabou afastado pelo Uruguai
E ao 17º dia o Mundo acabou
E de repente o céu límpido e estrelado cerrou-se, obscureceu e encheu-se de nuvens e trovoada, as elevadas temperaturas baixaram abruptamente para valores negativos, a verdejante relva cobriu-se de negro, o fulgor foi ofuscado traiçoeiramente, o sonho, lindo, de milhões foi arrebatadamente arrancado com garras cruéis e iniquas que nos rasgaram as entranhas. O melhor desempenho de Portugal no Mundial da Rússia resultou na única derrota desde aquele jogo de qualificação com a Suíça; o melhor desempenho de Portugal no Mundial da Rússia resultou na eliminação precoce, sim precoce, porque se há algo que ficou demonstrado foi que a selecção nacional é superior ao Uruguai. Do céu límpido caíram lágrimas que banharam os rostos dos nossos heróis, de todos nós espalhados pelos quatro cantos do Mundo. Ao 17º dia o Mundo acabou. Injustamente. Mas Portugal sobreviverá.
O primeiro dia dos oitavos de final tinham ficado marcados ao início da tarde com a eliminação da campeã Argentina perante a igualmente campeã França, e desde logo se projectava a reedição da final de 2016 do nosso contentamento. Porque o Uruguai, sendo um adversário complicado, não se equipararia à valência do campeão da Europa. Para esta primeira final Fernando Santos promoveu Ricardo Pereira, Bernardo Silva e Gonçalo Guedes para os lugares de Cedric, Ricardo Quaresma e André Silva. Percebeu-se, imediatamente, que quem teria de assumir o jogo seria Portugal, mas aquele lance aos 7’ com o selo de Suarez e em que Cavani inicia e finaliza a jogada do primeiro golo foi o primeiro raio que desceu dos céus.
Portugal encheu-se de brios ao intervalo e, já com algumas retificações estruturais feitas, Bernardo, esse fantástico agitador de talento, foi um dos que mais contribuiu para que a armada encontrasse o rumo certo e partisse em direcção à conquista. Pepe foi o responsável pelo reavivar da esperança, dizendo sim com toda a convicção ao cruzamento de Raphael Guerreiro, naquele que também foi o primeiro golo sofrido pelo Uruguai neste Mundial. Mas o segundo raio cairia dos céus de Sochi apenas sete minutos depois, novamente por Cavani, que com um remate em arco indefensável voltaria a colocar os sul-americanos em vantagem. Cavani que nove minutos depois sairia, lesionado, amparado por Cristiano Ronaldo, um gesto que define a grandeza do capitão da selecção portuguesa, que fez um jogo de persistência, sacrifício, humildade e solidariedade.
O cinismo e jogo directo do Uruguai sobrepôs-se ao futebol de posse, combinativo e talentoso de Portugal, que principalmente na segunda parte demonstrou por que razão é o detentor do título europeu. Sofrimento, muito, até ao último apito do árbitro, já com Ricardo Quaresma, André Silva e Manuel Fernandes em campo e com 61% de posse de bola contra 39% do adversário. Os sul-americanos fizeram três remates à baliza e marcaram dois golos; Portugal fez 20 (cinco dos quais à baliza) e apontou apenas um. Insuficiente num jogo a eliminar. Mas com a certeza de que caímos de pé e de cabeça bem erguida. Desta vez a estrelinha deu lugar a um enorme e negro meteoro. O sonho acabou. Por agora.